Única. Indescritível.
Extraordinária. Muitos podiam ser os objetivos que caracterizam a ENDURrun e
todos eles seriam adequados para descrever aquela que foi de longe a prova que
mais prazer me deu fazer. Além de ser uma prova que foge às tradicionais provas
de um dia, muitos outros aspetos fazem com que esta seja uma corrida única em
todos os sentidos. Este post serve para tentar exprimir por palavras todas esta
fantástica aventura que nunca tinha imaginado fazer até ao dia em que me apresentei
na linha de partida para a 1ª etapa.
A premissa era
simples: 8 dias, 7 etapas, 160 km, 1 corredor duro ou resistente (“tough”).
Nestas 7 etapas diversas distâncias esperavam os atletas com mais diversos
tipos de terreno (estrada, corta-mato, trail, montanha e combinações destas
possibilidades) e com as mais variadas extensões (desde os 10 à maratona).
Como tudo começou
Comecei a pensar
em participar nesta prova cerca de 2 meses antes de ela começar. Tinha feito os
10 km de Waterloo onde tinha como objectivo bater o meu recorde aos 10 km, mas
com problemas musculares na semana antes da prova e durante a mesma, apesar de
o batido o meu melhor tempo não foi o que eu queria daí querer ter outro
objectivo até ao fim da época.
Confesso que já
tinha passado os olhos mais do que uma vez pela ENDURrun, mas sempre achei que
era muito difícil de a fazer pela quantidade de provas em sequência e pela
existência de uma maratona no último dia. Quem me conhece sabe que sempre disse
que só faria uma maratona depois dos 30 e muitos anos pois possivelmente teria
de sofrer muito para a acabar e depois poderia perder o prazer de correr. Bem
acabei por antecipar essa escolha e estou bastante satisfeito com ela. No
entanto, apesar do excelente tempo que considero ter feito para estreia na maratona
e sem preparação específica para a mesma, acho que não farei outra assim tão
cedo, devido ao nível de preparação que sei que é necessário e porque eu iria
querer prepará-la decentemente. Mas… “nunca digas nunca”!
Ambições, objetivos e previsões
Inicialmente o
meu objetivo era terminar a ENDURrun sem problemas musculares e num tempo
inferior a 12:50:00. Acabei por dinamitar por completo este tempo acabado em
11:32:24, ou seja com menos 1 hora e 17 minutos que o tempo previsto.
Em termos de
ritmo médio foram 160 km percorridos a uma média de 4:20 / km.
Após as primeiras
duas etapas e tendo visto o nível dos meus “adversários” mais diretos pensei que
me teria de me contentar com o 7º lugar da classificação geral. Afinal de
contas tinha “apenas à minha frente” 3 antigos vencedores da prova (Stefan,
Rick e Mark), 1 antigo segundo classificado (Pattrick), um participante em
etapas do campeonato do mundo de IronMan (Christian) e uma máquina de corrida
em forma de pessoa (Matthew).
Com o decorrer da
prova, e especialmente após os 30 km em corta-mato, comecei a achar que podia
ambicionar a algo mais e comecei a apontar para o top-5. No dia da maratona
tinha uma vantagem de 11 minutos para gerir para manter o 5º lugar e apesar de
estar a apenas a 4/5 minutos do 3º e 4º lugar sabia que a experiência e muita
quilometragem dos restantes atletas iria fazer a diferença naquela que seria a
minha primeira maratona. Acabou por se notar isso especialmente na segunda
metade na mesma, mas ainda assim fui capaz de defender o meu 5º lugar.
Quantos às minhas
previsões e às do meu treinador para os tempos a realizar em cada etapa antes
do início da ENDURrun essas podem ser vistas em baixo.
Etapa
|
Minha previsão
|
Previsão do treinador
|
Tempo realizado
|
Meia-maratona
|
1:30:00
|
1:30:00
|
1:24:32
|
Contra-relógio 15 km
|
1:05:00
|
1:01:00
|
0:59:09
|
Corta-mato 30 km
|
2:25:00
|
2:17:00
|
2:12:51
|
10 milhas sobe e desce
|
1:13:00
|
1:19:00
|
1:03:09
|
Corta-mato 25.6 km montanha
|
2:17:00
|
2:20:00
|
2:11:00
|
Contra-relógio 10 km
|
0:44:00
|
0:40:00
|
39:15
|
Maratona
|
3:35:00
|
3:24:00
|
3:02:05
|
Quer as minhas
previsões quer as do meu treinador foram demasiado conservadoras para a forma
em que acabei por me exibir na prova. Antes assim do que o contrário.
Melhores momentos
Tantos! Sem
dúvida que a vitória na Etapa 4 foi aquele que mais facilmente me vem a cabeça,
especialmente por ser nunca etapa difícil e pela concorrência nunca ter
facilitado nada. Esse foi o dia em que me senti melhor nas etapas e que decidi
atacar de longe para tentar a minha sorte. As dificuldades inerentes da etapa
(sobe e desce constante e muito vento contra na segunda metade da prova) só
ajudaram a abrilhantar mais esta vitória.
O final da
maratona foi igualmente um dos melhores momentos. Pelo facto de a ter feito e
de ter acabado uma semana de competição que tão cedo não irei esquecer. Ter
também a Susana à minha espera na meta no último dia fica guardado nos melhores
momentos.
Pior momento
Vitória na etapa 4 (Foto de Julie Schmidt) |
Onde tudo acabou (Foto de Natascha) |
Não foi “o” pior,
mas sim o mais difícil. Na última volta do percurso do corta-mato de montanha
foi preciso reunir todos os bocadinhos de energia que ainda tinha para não
quebrar e para tentar minimizar o tempo perdido especialmente por nesta altura
já estar a correr sozinho. Nas últimas subidas na seção de trail final já só
queria parar e andar tal era o peso que sentia nas minhas pernas.
Resultado final
A sofrer na subida de sky (Foto de Julie Schimdt) |
Nunca antes de
começar a ENDURrun sonhei em andar a competir directamente com os primeiros
classificados da geral muito menos acabar por vencer uma etapa, por isso posso
dizer que em termos desportivos toda esta experiência excedeu as minhas
melhores expectativas.
Cheguei à última
etapa com hipóteses realistas de discutir um lugar no top-3 algo que também
esteve sempre fora da minha ideia durante a preparação para a ENDURrun.
O pós-corrida
Sem palavras.
Quando regressar a Portugal irei tão mal habituado. Após cada corrida tínhamos
um banquete à nossa espera. Havia ainda a preocupação de adaptar a comida
existente às necessidades dos atletas presentes (por exemplo comida só
vegetariana para alguns).
Não era apenas a
garrafinha de água no final e a peça de fruta. Era todo um vasto leque de
opções providenciadas por voluntários incansáveis sempre prontos a ajudarem os
atletas.
Os abastecimentos
ao longo de cada etapa estavam distribuídos a cada 2.5 ou 3 km sempre com géis
energéticos (para provas iguais ou superiores à meia-maratona) e sempre com
água ou bebidas dos sais.
Além disso haviam sempre voluntários em diversos
pontos do percurso apenas com a “função” de apoiar e encorajar os atletas que
por ali passavam.
Uma palavra também
para a equipa fotográfica (também de voluntários) que ao longo de cada dia
tirou milhares de fotos que depois de tratadas são disponibilizadas ao atletas
gratuitamente. Sem dúvida outro ponto a favor nesta corrida.
Agradecimentos
Segue-se agora a
parte dos agradecimentos. Extensíveis a todos aqueles que de uma forma ou outra
me ajudaram ao longo desta etapa de preparação e durante o decorrer na prova.
À Susana tenho de
agradecer a paciência por aturar o meu horário de treinos e compreender o
quanto eu gosto de “sofrer” (como ela diz) e por ter estado na linha de meta no
dia da maratona à minha espera.
Aos meus pais que
todos os dias me foram dando apoio depois das provas (especialmente a minha mãe
que dizia para eu não me esforçar muito nas provas J)
Ao meu treinador,
Fábio Pinto, por me ter colocado na melhor forma da minha com apenas 6 semanas
de preparação exclusiva para esta prova. O trabalho que fomos desenvolvendo
acabou por dar frutos visíveis nesta última semana da época.
Ao Brian Sklar,
da Relax and Restore Massage Services, que aceitou patrocinar sobre a forma de
tratamentos de recuperação muscular/massagem, esta minha aventura. Deu-me uma
enorme ajuda especialmente nas semanas mais duras e mesmo na semana da prova.
Ao Jorge Branco
pelo trabalho de divulgação deste blog durante esta minha aventura.
Os restantes
agradecimentos são para pessoas relacionadas com a ENDURrun. A todos aqueles,
atletas ou voluntários, que eu não mencionei as minhas desculpas sabendo, no
entanto, que todos foram importantes para que eu pudesse chegar onde cheguei.
À família Schmidt
(Lloyd, Julie e Jordan) que durante 1 semana nos trataram como família e
coordenada dezenas de voluntários para que nada nos faltasse.
Aos fantásticos
participantes da ENDURrun que mesmo em competição não deixam de se apoiar uns
aos outros criando laços de amizade e um grande espírito de união.
Tenho de
agradecer àqueles que mais perto privei durante a competição: Stefan,
Christian, Rick, Patrick, Mark e Matthew. Todos eles, mas especialmente, os 2
primeiros (por terem sido aqueles com quem corri durante mais tempo), elevaram
os meus níveis competitivos para níveis nunca antes atingidos e fizeram com que
me tornasse um atleta diferente, para melhor. Não irei esquecer as dezenas de
kms que fiz na companhia do Stefan e do Chris especialmente nas etapas de
corta-mato onde mesmo a sofrer ainda fomos capaz de rir uns bocados em conjunto
durante as provas.
Refiro apenas
alguns dos atletas da ENDURrun com quem privei mais diretamente. Mesmo não
mencionando todos os outros saibam que não me esquecerei de vocês.
Primeiramente tenho de agradecer à Michelle Lennox que durante 8 dias me deu
boleia para as provas e para os convívios extra-prova, além disso é super
simpática e deu também imenso apoio antes e depois das provas. Agradeço ao Paul
Mora por ser um atleta tão simpático sempre apoiando os outros atletas durante
a sua própria prova. Ao Steve Mahood e Una Beaudry por serem um casal tão
simpático e atencioso. Ao Andrew Moiser e ao seu banjo que sempre me puseram um
sorriso na cara mesmo quando estava a sofrer nas provas, a única excepção foi
na última volta dos 25.6 km de corta-mato por razões óbvias. Ao Ben Hack, Chris
Duke, Mark McDonald, Holger Kleinke, Jack Kilislian, Dusan Mataruga por serem
excelentes pessoas e atletas. Ao Andrew
e Heather Heij por me terem recebido no seu barbecue como a um amigo. À Joanne
Bink, Deirdre Large e Val Gudmundson pelo apoio que foram dando nas provas.
Estes agradecimentos são extensíveis a todas as atletas femininas, referindo
ainda a Mindy Fleming por se ter aguentado tanto tempo junto dos rapazes.
Dezenas de kms na companhia destes atletas (Foto de Julie Schimdt) |
Finalmente
resta-me agradecer a todos aqueles que me foram dando o seu apoio aqui no blog.
Espero um dia
voltar a fazer esta competição, sabendo que tal não é fácil especialmente em
termos logísticos, mas quem sabe.
Termino esta prova assinando do modo como toda a gente me passou a chamar após a 2ª etapa, devido à dificuldade em pronunciarem o meu nome.
Termino esta prova assinando do modo como toda a gente me passou a chamar após a 2ª etapa, devido à dificuldade em pronunciarem o meu nome.
"O teu nome é muito díficil de dizer. Mais vale chamar-te J!" (Foto de Julie Schimdt) |
J