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domingo, 24 de agosto de 2014

ENDURrun 2014 - Uma experiência única

Única. Indescritível. Extraordinária. Muitos podiam ser os objetivos que caracterizam a ENDURrun e todos eles seriam adequados para descrever aquela que foi de longe a prova que mais prazer me deu fazer. Além de ser uma prova que foge às tradicionais provas de um dia, muitos outros aspetos fazem com que esta seja uma corrida única em todos os sentidos. Este post serve para tentar exprimir por palavras todas esta fantástica aventura que nunca tinha imaginado fazer até ao dia em que me apresentei na linha de partida para a 1ª etapa.

A premissa era simples: 8 dias, 7 etapas, 160 km, 1 corredor duro ou resistente (“tough”). Nestas 7 etapas diversas distâncias esperavam os atletas com mais diversos tipos de terreno (estrada, corta-mato, trail, montanha e combinações destas possibilidades) e com as mais variadas extensões (desde os 10 à maratona).

Como tudo começou

Comecei a pensar em participar nesta prova cerca de 2 meses antes de ela começar. Tinha feito os 10 km de Waterloo onde tinha como objectivo bater o meu recorde aos 10 km, mas com problemas musculares na semana antes da prova e durante a mesma, apesar de o batido o meu melhor tempo não foi o que eu queria daí querer ter outro objectivo até ao fim da época.

Confesso que já tinha passado os olhos mais do que uma vez pela ENDURrun, mas sempre achei que era muito difícil de a fazer pela quantidade de provas em sequência e pela existência de uma maratona no último dia. Quem me conhece sabe que sempre disse que só faria uma maratona depois dos 30 e muitos anos pois possivelmente teria de sofrer muito para a acabar e depois poderia perder o prazer de correr. Bem acabei por antecipar essa escolha e estou bastante satisfeito com ela. No entanto, apesar do excelente tempo que considero ter feito para estreia na maratona e sem preparação específica para a mesma, acho que não farei outra assim tão cedo, devido ao nível de preparação que sei que é necessário e porque eu iria querer prepará-la decentemente. Mas… “nunca digas nunca”!

Ambições, objetivos e previsões

Inicialmente o meu objetivo era terminar a ENDURrun sem problemas musculares e num tempo inferior a 12:50:00. Acabei por dinamitar por completo este tempo acabado em 11:32:24, ou seja com menos 1 hora e 17 minutos que o tempo previsto.

Em termos de ritmo médio foram 160 km percorridos a uma média de 4:20 / km.

Após as primeiras duas etapas e tendo visto o nível dos meus “adversários” mais diretos pensei que me teria de me contentar com o 7º lugar da classificação geral. Afinal de contas tinha “apenas à minha frente” 3 antigos vencedores da prova (Stefan, Rick e Mark), 1 antigo segundo classificado (Pattrick), um participante em etapas do campeonato do mundo de IronMan (Christian) e uma máquina de corrida em forma de pessoa (Matthew).

Com o decorrer da prova, e especialmente após os 30 km em corta-mato, comecei a achar que podia ambicionar a algo mais e comecei a apontar para o top-5. No dia da maratona tinha uma vantagem de 11 minutos para gerir para manter o 5º lugar e apesar de estar a apenas a 4/5 minutos do 3º e 4º lugar sabia que a experiência e muita quilometragem dos restantes atletas iria fazer a diferença naquela que seria a minha primeira maratona. Acabou por se notar isso especialmente na segunda metade na mesma, mas ainda assim fui capaz de defender o meu 5º lugar.

Quantos às minhas previsões e às do meu treinador para os tempos a realizar em cada etapa antes do início da ENDURrun essas podem ser vistas em baixo.

Etapa
Minha previsão
Previsão do treinador
Tempo realizado
Meia-maratona
1:30:00
1:30:00
1:24:32
Contra-relógio 15 km
1:05:00
1:01:00
0:59:09
Corta-mato 30 km
2:25:00
2:17:00
2:12:51
10 milhas sobe e desce
1:13:00
1:19:00
1:03:09
Corta-mato 25.6 km montanha
2:17:00
2:20:00
2:11:00
Contra-relógio 10 km
0:44:00
0:40:00
39:15
Maratona
3:35:00
3:24:00
3:02:05

Quer as minhas previsões quer as do meu treinador foram demasiado conservadoras para a forma em que acabei por me exibir na prova. Antes assim do que o contrário.

Melhores momentos

Tantos! Sem dúvida que a vitória na Etapa 4 foi aquele que mais facilmente me vem a cabeça, especialmente por ser nunca etapa difícil e pela concorrência nunca ter facilitado nada. Esse foi o dia em que me senti melhor nas etapas e que decidi atacar de longe para tentar a minha sorte. As dificuldades inerentes da etapa (sobe e desce constante e muito vento contra na segunda metade da prova) só ajudaram a abrilhantar mais esta vitória.
Vitória na etapa 4 (Foto de Julie Schmidt)
O final da maratona foi igualmente um dos melhores momentos. Pelo facto de a ter feito e de ter acabado uma semana de competição que tão cedo não irei esquecer. Ter também a Susana à minha espera na meta no último dia fica guardado nos melhores momentos.
Onde tudo acabou (Foto de Natascha)
Pior momento

Não foi “o” pior, mas sim o mais difícil. Na última volta do percurso do corta-mato de montanha foi preciso reunir todos os bocadinhos de energia que ainda tinha para não quebrar e para tentar minimizar o tempo perdido especialmente por nesta altura já estar a correr sozinho. Nas últimas subidas na seção de trail final já só queria parar e andar tal era o peso que sentia nas minhas pernas.
A sofrer na subida de sky (Foto de Julie Schimdt)
Resultado final

Nunca antes de começar a ENDURrun sonhei em andar a competir directamente com os primeiros classificados da geral muito menos acabar por vencer uma etapa, por isso posso dizer que em termos desportivos toda esta experiência excedeu as minhas melhores expectativas.
Cheguei à última etapa com hipóteses realistas de discutir um lugar no top-3 algo que também esteve sempre fora da minha ideia durante a preparação para a ENDURrun.

O pós-corrida

Sem palavras. Quando regressar a Portugal irei tão mal habituado. Após cada corrida tínhamos um banquete à nossa espera. Havia ainda a preocupação de adaptar a comida existente às necessidades dos atletas presentes (por exemplo comida só vegetariana para alguns).

Não era apenas a garrafinha de água no final e a peça de fruta. Era todo um vasto leque de opções providenciadas por voluntários incansáveis sempre prontos a ajudarem os atletas.

Os abastecimentos ao longo de cada etapa estavam distribuídos a cada 2.5 ou 3 km sempre com géis energéticos (para provas iguais ou superiores à meia-maratona) e sempre com água ou bebidas dos sais. 

Além disso haviam sempre voluntários em diversos pontos do percurso apenas com a “função” de apoiar e encorajar os atletas que por ali passavam.

Uma palavra também para a equipa fotográfica (também de voluntários) que ao longo de cada dia tirou milhares de fotos que depois de tratadas são disponibilizadas ao atletas gratuitamente. Sem dúvida outro ponto a favor nesta corrida.

Agradecimentos

Segue-se agora a parte dos agradecimentos. Extensíveis a todos aqueles que de uma forma ou outra me ajudaram ao longo desta etapa de preparação e durante o decorrer na prova.

À Susana tenho de agradecer a paciência por aturar o meu horário de treinos e compreender o quanto eu gosto de “sofrer” (como ela diz) e por ter estado na linha de meta no dia da maratona à minha espera.

Aos meus pais que todos os dias me foram dando apoio depois das provas (especialmente a minha mãe que dizia para eu não me esforçar muito nas provas J)

Ao meu treinador, Fábio Pinto, por me ter colocado na melhor forma da minha com apenas 6 semanas de preparação exclusiva para esta prova. O trabalho que fomos desenvolvendo acabou por dar frutos visíveis nesta última semana da época.

Ao Brian Sklar, da Relax and Restore Massage Services, que aceitou patrocinar sobre a forma de tratamentos de recuperação muscular/massagem, esta minha aventura. Deu-me uma enorme ajuda especialmente nas semanas mais duras e mesmo na semana da prova.

Ao Jorge Branco pelo trabalho de divulgação deste blog durante esta minha aventura.

Os restantes agradecimentos são para pessoas relacionadas com a ENDURrun. A todos aqueles, atletas ou voluntários, que eu não mencionei as minhas desculpas sabendo, no entanto, que todos foram importantes para que eu pudesse chegar onde cheguei.

À família Schmidt (Lloyd, Julie e Jordan) que durante 1 semana nos trataram como família e coordenada dezenas de voluntários para que nada nos faltasse.

Aos fantásticos participantes da ENDURrun que mesmo em competição não deixam de se apoiar uns aos outros criando laços de amizade e um grande espírito de união.

Tenho de agradecer àqueles que mais perto privei durante a competição: Stefan, Christian, Rick, Patrick, Mark e Matthew. Todos eles, mas especialmente, os 2 primeiros (por terem sido aqueles com quem corri durante mais tempo), elevaram os meus níveis competitivos para níveis nunca antes atingidos e fizeram com que me tornasse um atleta diferente, para melhor. Não irei esquecer as dezenas de kms que fiz na companhia do Stefan e do Chris especialmente nas etapas de corta-mato onde mesmo a sofrer ainda fomos capaz de rir uns bocados em conjunto durante as provas.
Dezenas de kms na companhia destes atletas (Foto de Julie Schimdt)
Refiro apenas alguns dos atletas da ENDURrun com quem privei mais diretamente. Mesmo não mencionando todos os outros saibam que não me esquecerei de vocês. Primeiramente tenho de agradecer à Michelle Lennox que durante 8 dias me deu boleia para as provas e para os convívios extra-prova, além disso é super simpática e deu também imenso apoio antes e depois das provas. Agradeço ao Paul Mora por ser um atleta tão simpático sempre apoiando os outros atletas durante a sua própria prova. Ao Steve Mahood e Una Beaudry por serem um casal tão simpático e atencioso. Ao Andrew Moiser e ao seu banjo que sempre me puseram um sorriso na cara mesmo quando estava a sofrer nas provas, a única excepção foi na última volta dos 25.6 km de corta-mato por razões óbvias. Ao Ben Hack, Chris Duke, Mark McDonald, Holger Kleinke, Jack Kilislian, Dusan Mataruga por serem excelentes  pessoas e atletas. Ao Andrew e Heather Heij por me terem recebido no seu barbecue como a um amigo. À Joanne Bink, Deirdre Large e Val Gudmundson pelo apoio que foram dando nas provas. Estes agradecimentos são extensíveis a todas as atletas femininas, referindo ainda a Mindy Fleming por se ter aguentado tanto tempo junto dos rapazes.

Finalmente resta-me agradecer a todos aqueles que me foram dando o seu apoio aqui no blog.

Espero um dia voltar a fazer esta competição, sabendo que tal não é fácil especialmente em termos logísticos, mas quem sabe.

Termino esta prova assinando do modo como toda a gente me passou a chamar após a 2ª etapa, devido à dificuldade em pronunciarem o meu nome.


"O teu nome é muito díficil de dizer. Mais vale chamar-te J!" (Foto de Julie Schimdt)
Até à próxima, bons treinos e melhor corridas.

J

12 comentários:

  1. He he, começando pelo fim, tenho reuniões telefónicas quase diárias com pessoas que vão desde Inglaterra, E.U.A. Egipto, Índia, etc, e não há uma única que consiga dizer correctamente o meu nome, também João. Então os anglo-saxónicos é duma dificuldade...

    João, ou J, nem tenho palavras para resumir toda a minha admiração por esta tua incrível prestação! Muitos e muitos parabéns e força para os próximos desafios!

    Um abraço

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    1. É verdade João. Apenas algumas pessoas daqui laços mais à zona francesa do Canadá é que ainda se conseguem aproximar da entoação :)

      Mais uma vez muito obrigado pelo apoio.

      Abraço

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  2. Só posso dizer que estou como João Lima: "nem tenho palavras para resumir toda a minha admiração por esta tua incrível prestação!"
    Só te posso é felicitar!
    Quando ao agradecimento que me fazes é para mim uma honra divulgar o teu blogue e o grande atleta que és.
    No Último Quilómetro gostamos de divulgar e apoiar quem merece e tu mereces com poucos!
    Forte abraço.

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    1. Não tenho palavras para lhe agradecer pelo seu trabalho Jorge. Sempre que precisar de algo, não hesite, se puder ajudar fá-lo-ei.

      Um grande abraço

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  3. EXCELENTE; CORAGEM DEDIÇÃO E LUTA!!!!! GRANDE ""ATLETA""

    PARABENS MAIS QUE MERECIDOS

    ABRAÇO

    Victor Gonçalves

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  4. Parabéns pelo excelente resultado! Só consigo imaginar a dureza das provas e ainda por cima todas de seguidas! Um abraço

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    1. Obrigado Sílvio.

      Realmente foi duro, mas tendo em conta toda a envolvência da prova (atletas, voluntário, etc) acabou por ser mais fácil que o esperado.

      Abraço

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  5. Excelente! Adorei acompanhar a tua prova, apesar de já só ter apanhado no dia depois da Maratona. Li tudo de assentada (binge read, já que estamos a falar de uma prova nos states eheh) e adorei! Ganhaste aqui mais um seguidor. Força nisso, e vai dando noticias ;)

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    1. Obrigado Filipe.

      Ainda bem que também gostaste :)

      Agora é começar a preparar a nova época e ver o que ela me vai trazer. E sim, continuarei a dar notícias.

      Um abraço

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  6. Um dia quando for grande quero fazer uma Endurrun! Por essa altura já tu ganhaste uma :D

    Parabéns J, grande prestação! Foi um prazer acompanhar esta tua aventura e uma verdadeira inspiração para o futuro.

    Força para a nova época!

    Um grande abraço

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    1. Um dia eu quero cá voltar e fazê-la de novo :D

      Obrigado Vitor.

      Boa sorte para a tua nova época também.

      Grande abraço.

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